Por que o dia virou noite durante a crucificação de Jesus?
“E darei a ver prodígios no céu e na Terra. Prodígio de sangue e de fogo e de vapor e de fumo. O Sol converter-se-á em trevas e a Lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor”.
É com essas palavras bíblicas que Pilatos nos dá a pista de um evento astronômico que ocorreu no dia da crucificação de Jesus de Nazaré, em Jerusalém.
Há uma interpretação mística quando se diz sobre um possível Eclipse Solar na região, mas o que de fato ocorreu foi um eclipse Lunar. O que realmente fez as pessoas acreditarem na época foi um eclipse ocorrido antes, que causou muito alvoroço, e pensou-se que teria ocorrido outro na sexta-feira da paixão.
Já falamos aqui que o evento da crucificação ocorreu em 14 de Nissã (calendário judaico), ou seja, quatorze dias depois da lua nova, quando já era lua cheia. Por outro lado, sabemos que o sacrifício de Jesus se deu durante o Pêssach (Páscoa), que sempre ocorre nas luas cheias. Assim, como os eclipses do Sol só acontecem na lua nova, o escurecimento da crucificação não poderia ter sido causado por um eclipse solar.
Sabe-se que durante toda a vida ativa de Jesus, compreendida provavelmente entre 29 e 33 d.C., ocorreu um só eclipse total do Sol que durou da sexta à nona hora, como aliás acontece a cada duzentos anos numa mesma região. Trata-se do eclipse ocorrido em 24 de novembro do ano de 29 do calendário juliano. Tal fenômeno impressionou fortemente os seus assistentes, provocando terror, como todos os eclipses no período da Antiguidade. Assim o descreve o sábio bizantino Fócio, no século 9: “Foi um grande eclipse do Sol, como não se havia visto nos anos precedentes: as trevas foram tão espessas à sexta hora que foi até mesmo possível ver as estrelas”. Além deste eclipse solar, foram visíveis no período de 26 a 33 d.C. oito eclipses da Lua em Jerusalém.
O eclipse da Lua no dia da crucificação – provavelmente em 03 de abril de 33 d.C. – começou às 15h16, quando a Lua ainda se encontrava abaixo do horizonte em Jerusalém, de acordo com os modelos astronômicos feitos hoje. O meio do eclipse, quando o disco lunar estava 59% eclipsado, ainda era invisível no Calvário. A Lua rosada nasceu com 20% do seu disco eclipsado às 16h12. Mais tarde, 34 minutos depois, o eclipse terminou, às 18h 46.
Na realidade, a coloração dos eclipses da Lua varia com as condições atmosféricas. Parece que os eclipses, mesmo parciais, quando ocorrem muito baixo no horizonte, provocam um avermelhamento muito sensível. A ocorrência desse eclipse deve ter provocado na população de Israel uma associação com os anteriores sinais celestes de sacrifícios em nome de Deus, como está relatando no Livro dos Atos. Este talvez tenha sido o eclipse que os historiadores associaram com o eclipse da Lua em 03 de abril de 33. De fato, no dia da Paixão, em consequência desse eclipse, a Lua nasceu oculta no Monte das Oliveiras.
“Era por volta do meio-dia. O Sol se eclipsou e a escuridão cobriu toda a Terra até as três da tarde. O véu do Templo foi rasgado ao meio” (Lucas 23,44-45; A História do Povo de Deus). Embora as palavras pareçam claras, são muitos os estudiosos que afirmam que não se refere necessariamente a um eclipse solar. De fato, existem traduções que não mencionam um eclipse, mas, simplesmente, que o Sol escureceu.
Muitos teólogos afirmam que Jesus foi crucificado em 3 de abril do ano de 33. Segundo documentos históricos e cálculos baseados nas equações de Kepler, nesse dia ocorreu um eclipse lunar e não solar, que teria sido visível de Jerusalém. Uma recriação digital permite ver como a Lua começou a ficar vermelha precisamente às 3 da tarde, momento em que Jesus dava seu último suspiro.
Acontece que um eclipse lunar, supostamente ocorrido no dia que Jesus foi crucificado, não justifica as três horas de escuridão descritas pelo Evangelho durante o evento. De modo que o fenômeno capaz de gerar um eclipse desse tipo continua sendo um mistério para a ciência.